quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Sociedade da Imundice


Sujeira espalhada pelo centro violenta a urbanidade e indica desrespeito pela própria cidade


São 14h de mais uma quarta-feira ensolarada em Uberaba. Andando pelas ruas do bairro Abadia é visível a sujeira espalhada pelo chão, nos canteiros, praças e avenidas, enfim por todos os cantos, certo momento, olhando para o outro lado da rua e uma carro sai da garagem, e da janela voa repentinamente uma casca de banana, que caí na calçada e lá provavelmente iria continuar por muito tempo se depender da senhora comedora de bananas. Seguindo rumo ao centro da cidade, nos deparamos com muros pichados, orelhões pintados por corretivo escolar, casas antigas que fazem parte da história de Uberaba, totalmente depredadas. Tudo parece tão normal! Tantas pessoas passam por estes lugares, e será que ninguém percebe o mal que está acontecendo?
Do papel de bala jogado no chão à parede quebrada e os cartazes colados na parede da casa "velha" em frente o ponto de ônibus da Praça Rui Barbosa, há uma grande falta de cidadania. Quem, ou o que é culpado por isso? Familiares, escola, cultura, população em geral?
Para o vendedor de trufas, Osiel Santos, e para a vendedora de sorvetes, Mirian Pimenta, que trabalham no calçadão, essas ações são consideradas como falta de educação e o erro está em casa. "Eles passam ao lado das lixeiras e têm a capacidade de jogar os papéis no chão.", comentam. Para Mírian é desde criança que estes maus hábitos devem ser corrigidos, "Se jogou um pacote de bolacha no chão, a mãe deve fazer com que a própria criança e coloque no lixo.". Para Osiel a sociedade só sabe reclamar, mas não faz nada para ajudar a melhorar, citando o exemplo das enchentes: "As pessoas reclamam das enchentes de Uberaba, mas não se cansam de entupir os bueiros com os lixos que produzem.".
Segundo o professor e historiador, Pedro dos Reis Coutinho, que estuda há vinte anos a história de Uberaba, o único caminho é a educação, somente por meio dela a sociedade chegará à cidadania. O professor explica que as pessoas tratam o que é público como se fosse de ninguém, porém deveriam perceber que o que é público, é de todos, e assim preservar os telefones públicos, os patrimônios históricos, manter as ruas limpas, como fazem dentro de suas casas. E o resultado disso seria uma cidade limpa e bonita.
Andando pelo centro da cidade encontramos muitos catadores de papel, Wilson Roberto, que trabalha nessa profissão há mais de dois anos na Praça Rui Barbosa, conta que até mesmo os próprios catadores acabam ajudando a espalhar a sujeira pela cidade, segundo ele, alguns ao procurarem algo nos lixos, acabam jogando o que não lhes interessam no chão, sem se importarem com a poluição. Mas conta também que a vida já lhe rendeu muitas histórias mirabolantes, "Até que o lixo de Uberaba é bom sabia?! Um dia desses encontrei um computador dentro de um deles!".
Uma varredora das ruas da cidade que não quis se identificar diz que as pessoas não se sentem na obrigação de preservar as ruas, as calçadas, enfim a cidade, sendo assim acabam jogando lixo no chão, poluindo o meio ambiente, "É impressionante a falta de consciência de algumas pessoas. Na cidade foram colocadas várias lixeiras, e mesmo assim elas insistem em jogar o lixo no chão!", porém com o aumento das lixeiras nas ruas ela diz que de certa forma melhorou sim a preservação, "Era pior ainda!" diz.
Andando um pouco mais, indo para um outro ponto da cidade, também muito freqüentado, o Shopping Uberaba, essa realidade é um pouco diferente, "As pessoas que freqüentam o shopping parecem ter vergonha de jogar o lixo no chão, porque pode ter gente olhando.", diz uma zeladora, mais muitas vezes, as pessoas que jogam o lixo na lixeira e por ventura não acertam e acaba caindo no chão não voltam para catar o lixo, mais uma vez elas têm vergonha de catar, não deveria ser vergonhoso jogar ou deixar o lixo no chão?
O pior de tudo é que as pessoas concordam com esse quadro de falta de educação para a urbanidade precisa mudar, mas continuam agindo da mesma maneira. Isso porque julgam o problema como banal, comparado aos que precisam enfrentar no dia-a-dia. A falta de tempo das pessoas é tanta que que elas acham que ao atravessar a rua para jogar um papel de bala na lixeira irão gastar um tempo preciso. Ë muito mais cômodo e rápido deixar no cantinho da calçada. No entanto, estudiosos sobre a urbanidade têm percebido que, quando a cidade fica suja e mal cuidada, as pessoas tendem a desrespeitá-la ainda mais através do vandalismo, depredaçòes e outros tipos de violência. Ou seja, uma casaca de banana jogada pelo vidro do automóvel é uma bola de neve que, ao tornar-se um hábito social, pode comprometer a qualidade de vida da cidade. Por isso é sempre melhor combater esses problemas quando eles ainda parecem ser inofencivos. São as pequenas práticas cotidianas que transformam a vida da cidade.
Danielle Maia

Um comentário:

  1. Olá, eu moro numa cidade chamada Aracaju, no estado de Sergipe. Todos que chegam aqui ficam espantados com a limpeza das ruas.
    Na verdade, confesso que não é uma questão de educação dos habitantes daqui.
    Sinceramente, o prefeito gasta muito dinheiro investindo em limpadores de rua, caminhoes de lixo, caminhoes de varredura e lavagem de ruas, olheiros que garantem que o patrimonio cultural, público e particular jamais seja depredado, pichado, etc, o tempo todo.
    Bom, o resultado é uma cidade agradavelmente limpa.
    Talvez se os politicos de tua cidade agissem dessa forma, Uberaba não passasse tanta vergonha.
    Adoro a cidade de vcs, vou morar em breve aí e fico triste ao ler o post da autora, infelizmente (POR ENQUANTO) é esta a realidade do bairro Abadia.

    Abraço a todos.

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