sábado, 12 de março de 2011

Crônica: Medo das ruas

Eu, com essa mania de conhecer "gentes" acabo me esbarrando por histórias interessantes, cômicas e tristes. Hoje conheci uma mulher, na fila da lotérica (lotérica no shopping, com uma fila quilométrica por sinal já que era a única aberta às 18:00) uma mulher que com um "dedim de proza" acabou se abrindo à episódios frustrantes e tristes de sua vida desconhecida, acabei de me lembrando e reconhecendo a uma crônica por mim escrita há alguns anos. Um retrato da realidade que infelizmente nos mostra que mesmo que se passem dias, meses ou mesmo anos, não muda.. se transforma.



Crônica: Medo das ruas

Danielle Maia

Vivemos em meio um caos, um caos de perguntas que não se respondem, de pessoas que vivem no medo, medo do escuro, medo das motos, medo das próprias pessoas.

Marina tem 22 anos, faz faculdade de Biomedicina e voltava para casa, às 21h. Descera do ônibus, que costumadamente a deixava na esquina de sua residência, caminhava em passos longos, quando de repente dois homens surgem em uma moto, um desce e a aponta uma arma de fogo, o outro continua no veículo, o primeiro a pressiona contra a parede, começa a alisar seu corpo, fazendo que sentisse até mesmo as batidas desesperadas de seu coração, pegou a bolsa de Marina, falou em seus ouvidos que ficasse calada e que seguisse andando sem olhar para trás. Ela, mesmo com as pernas trêmulas, a respiração ofegante e uma enorme vontade de sair correndo gritando e chorando desesperadamente, seguiu pela calçada em direção a sua casa, mesmo que o caminho parecesse longo demais, Marina ainda fora forte o suficiente para seguir em frente, o barulho de uma moto acelerando no sentido contrário conseguiu dar uma pequena aliviada na tensão que insistia em tomar conta da jovem.

Marina reagiu bem a situação, não se hesitou em contrariar aqueles homens, saiu ilesa do momento de angústia, mas o mesmo não pode se dizer de João Carlos um outro estudante também de 22 anos, que viveu uma situação parecida mas não com o mesmo fim.

João Carlos voltava da faculdade por uma rua pouco movimentada de um bairro de classe média na cidade, seguia tranquilamente de bicicleta rumo também a sua residência, quando dois aparentemente inofensivos que transitavam na calçada cercaram sua bicicleta, um dos homens sacou um revólver e o outro o jogou sobre o asfalto da rua, que já não era tão novo, dava para ver os paralelepípedos que ali estavam debaixo do asfalto, a bicicleta fora levantada por um dos homens e encostada no muro de uma residência, enquanto momentos de horror e maldade estariam para começar contra João Carlos que, ainda no chão, suplicava para que o deixassem em paz e levassem sua bicicleta se quisessem, mas não foi o que aconteceu.

Chutes e pontapés começaram a acertar todas as partes do corpo do jovem, pisões e socos os faziam perder as forças e por mais que relutasse para que aquele momento acabasse, eles não paravam a tortura, um dos homens pega uma pedra de paralelepípedo do chão que estava solta e sem a menos piedade acerta vários golpes na cabeça de João Carlos, que fica inconsciente, deitado sobre o solo da rua, quando vê um homem saindo de sua residência, os dois perversos assaltantes saem em disparada com a bicicleta do jovem. O homem se desespera ao ver aquele garoto tão jovem atirado e todo deformado quase na porta de sua casa, chama o resgate para que possa socorrer o garoto.

João Carlos ficou em coma durante 3 semanas no hospital, fraturou três costelas e teve um dos braços quebrado. Hoje, o garoto vive com medo das ruas, medo das pessoas, de sair de casa que passam por ele, medo até mesmo de ficar em casa. Mas mesmo assim não deixa de salientar que perdoa os homens que fizeram isso com ele, explica que todos têm algum motivo para tomar certas atitudes, mesmo que essas atitudes sejam o mal para alguém.

Muitas pessoas podem reprimir, recriminar, ou até mesmo concordar com os pensamentos de João Carlos, mas sempre o que vem aos pensamentos da pessoas que sabem dessas histórias é a mesma pergunta: Qual o por que de tanta violência?

A falta de oportunidades muitas vezes leva as pessoas a se revoltarem com o mundo em que vivem, as grandes falhas na educação principalmente, faz com que o futuro de uma pessoa seja limitado, e essa limitação é grande parte dessa revolta. Sendo assim esses, que são na maioria das vezes jovens, acabam optando por um meio de adquirir dinheiro fácil e muitas vezes maltratando pessoas que podem não ter nada a ver com a situação deles. Foi o que aconteceu com estes dois jovens, que acabaram pagando por uma falha de um governo ou mesmo de uma sociedade que não se preocupa com o próximo, uma sociedade que faz jus ao status financeiro, quando deveria se preocupar com o futuro de todos. A valorização do ser humano é um ato de amor e solidariedade que pode trazer muitos benefícios tanto para o país quanto para os próprios cidadãos.

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