terça-feira, 19 de maio de 2009

A força dos olhos


A discriminação e a luta de um povo para conquistar o seu espaço em uma terra desconhecida


O que seria pensar em japoneses? Ao primeiro passo lembramos logo de uma de suas características marcantes: os olhos. Formas precisas e sem muita diferença em cores. São ‘olhos’ e ‘olhares’. Por trás daqueles jeitos meigos e recatados, os olhos de cada um dizem muito, contam histórias. Se bem reparados, escrevem a melodia diária de um povo, se fitados com apresso podem nos levar a uma viagem fascinante que trazem sua narrativa não apenas o país de origem, mas o país pelo qual foram adotados.

Olhos que dizem mais do que palavras, que apesar de tão pequenos e frágeis guardam no fundo de suas pupilas quase irreparáveis a memória de um povo, a história de uma vida, de uma vida escrita com milhares.

Por estes e outros olhares que mostraremos essas vidas, essas tão significantes histórias desta etnia que cresce a cada momento enriquecendo a cultura brasileira e aprimorando a japonesa, fazendo um elo de Brasil e Japão, cores e raças, formando pessoas.

Mas quem vê hoje essa cultura sendo adotada e por muitos admirada pode não saber que estas mesmas pessoas de olhos puxados em tempos atrás passaram por momentos de tensão, humilhação, discriminação, apenas por quê? Pelos olhos, pelos mesmos olhos que um dia visavam no Brasil uma oportunidade de crescimento.

“Pode não parecer muito tempo, mas é... foram tempos difíceis quando meus avós vieram para Uberaba, eles contavam que a dificuldade no começo já era muita pela dificuldade com a comunicação, pois eles vinham do Japão e não sabiam falar português, então no começo eles passavam fome, e o que comiam passavam mal com náuseas e vômitos pelo choque da comida bem temperada daqui do Brasil e da alimentação mais leve com que eram acostumados, As pessoas não davam emprego para eles por causa da baixa estatura e dos olhos puxados demais, os empresários, eles falavam que com olhos daquele tamanho não poderiam enxergar as coisas direito, então não contratavam os japoneses” Diz Tayko Mishuako empresário em Uberaba e sonsei neto de japoneses.

Durante este período em que as pessoas ainda tinham uma rejeição pelos imigrantes japoneses também haviam pessoas de bom coração que “resgatavam” essas pessoas para ajudar em sua adaptação no país desconhecido e de língua estranha, é assim que relata Maria Helena Tonsey, que é yonsei descendente bisneta de japoneses e lembra com apresso do carinho com o que o avô recebia os imigrantes.

“Eu era pequenininha e meu avô me levava na Mogiana pra buscar os japoneses, eu achava engraçado eles falando, e meu avô me mandava parar de rir deles, meu avô falava japonês por que os pais dele ensinou pra ele. Quando o pessoal saía do trem, eles saiam com um ar de perdidos, ai meu avô ia lá e falava com eles, parecia eu tinha encontrado velhos amigos, mas eles nem se conheciam, então meu avô levava eles pra casa, até por que não vinham muito de uma vez só eram numa faixa de 7 a 10 pessoas por vez. Ai ele levava o pessoal pra casa, e lá ele ensinava o básico pra eles, ensinava como agradecer em português, ensinava como pedir comida, e eu adorava me sentia professora deles! E ia também tentando adaptar a comida pra eles aos poucos, eles ficavam em média uns 15 dias lá em casa, depois saíam em busca de emprego nas fazendas, e como eles se esforçavam e se mostravam muito esforçados para os fazendeiros eles sempre contratavam ou indicavam alguma fazenda em municípios visinhos pra eles irem trabalhar, e assim foi, até meu avô montar uma associação onde aqueles que já estavam adaptados ao Brasil ajudavam também os que estavam chegando quando podiam”.

Estes olhos hoje são mais comuns de serem encontrados, porém sempre reparados. Não são mais tão discriminados, mesmo pequenos, difíceis mesmo de se enxergar eles conquistaram o seu espaço, espalharam sua cultura e distribuíram sua força.


Danielle Maia

Nenhum comentário:

Postar um comentário